quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Erasmus vs Ciência sem Fronteiras: minha experiência

Agora já se passaram algumas semanas aqui na Inglaterra e achei interessante comparar dois grande programas: Erasmus vs Ciência sem Fronteiras. O post ficou bem grande mas vocês podem pular para as partes que acharem mais interessantes.

Geral

Ciência sem Fronteiras: "Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC". 

Erasmus+: "O programa Erasmus+ tem por objetivo reforçar as competências e a empregabilidade, bem como modernizar a educação, a formação e a animação de juventude. O programa, que abrange um período de sete anos, disporá de um orçamento de 14,7 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 40% em relação aos níveis de despesa atuais, em consonância com o compromisso assumido pela UE de investir nesta área".

Ambos possuem programas voltado para alunos de graduação, mestrado e doutorado. Vou tentar comparar aqui os dois, mas lembrando que eu tive bolsa do Ciência sem Fronteiras de graduação (CALDO, Canadá) e do Erasmus de mestrado (Europubhealth).


O dinheiro: Existem diferenças significativas e importantes entre os dois, pela minha experiência. 

Ciência sem Fronteiras: O primeiro pagamento de bolsa do Ciência sem Fronteiras aconteceu pouco tempo antes da minha viagem para o Canadá. No meu caso, o edital foi um pouco corrido mas sei de outros editais em que as pessoas receberam com uma boa antecedência. Dessa forma, é possível usar o dinheiro para pagar seguro, visto e passagens sem ser um enorme impacto no orçamento (claro, depende muito da situação do seu edital). De qualquer forma, todos (exceto excessões) chegam no seu país de destino já com o dinheiro da bolsa. Um ponto negativo é que a primeira bolsa vem em reais levando à perdas com as conversões. 

Erasmus+: O pagamento da bolsa Erasmus foi realizado somente aqui na Inglaterra, quase 1 mês depois. Isso em partes é devido ao sistema inglês pois só é possível abrir uma conta no banco após estar 100% registrado na universidade (e isso tem um dia certo para acontecer). Após o envio dos dados do banco, o Erasmus demorou cerca de 15 dias para enviar o dinheiro (que demora alguns dias para chegar). O mais surpreendente foi quando enviei um email cobrando o dinheiro (pois tinha que pagar aluguel) e pediram desculpas, dizendo que estava atrasado pois estavam muito ocupados. Eu passar fome tudo bem né (só não passei pois tenho uma família que pode me ajudar)?

Bolsa de graduação:
  • Ciência sem Fronteiras: 870 libras ou 420 libras (com alojamento pago pelo programa) + 400 libras do adicional de localidade
Bolsa de doutorado:
  • Ciência sem Fronteiras: 1300 libras + 400 libras do adicional de localidade + 200 libras acréscimo para dependentes (max 2)
Bolsa de mestrado:
  • Erasmus: 1000 euros (~ 720 libras)
Isto é, a menor bolsa do Ciência sem Fronteiras (graduação) ainda é maior que a bolsa de mestrado do Erasmus+. No meu caso, se eu fosse morar na universidade pagaria cerca de 500 libras por mês e portanto a bolsa seria cerca de 920 libras. No caso do Erasmus também não existe a opção de adicional de localidade, dependentes, nada disso. É 1000 euros e pronto. 

Sendo assim, financeiramente falando a bolsa do Ciência sem Fronteiras é muito melhor que a bolsa Erasmus (ao menos para quem vem para a Inglaterra).

O diploma: Novamente, vou comparar a nível de mestrado. No caso de quem faz um mestrado full pelo CsF (acho que nem tem como mais, mas digamos que tenha), você sairá com um diploma de uma universidade específica. As vantagens são que você aproveita 100% o curso em uma universidade e isso também facilita um pouco a vida, afinal, lidar com burocracias de várias instituições não é nada agradável.

No caso do Erasmus, o aluno sai com pelo menos dois diplomas (pois é obrigatório passar por pelo menos 2 países em um mestrado do Erasmus). No meu caso terei meu diploma da universidade na Inglaterra e um da universidade na França, além de um complemento explicando todo o processo (pois colocar que eu fiz o mesmo curso em duas universidade no meu CV é um pouco estranho). A vantagem é bem óbvia, ter dois diplomas é ótimo e levarei os mesmos dois anos. Mas, como já dito, lidar com a burocracia de duas universidades em dois países não é nada fácil (por exemplo: ambas tem que concordar com a sua aprovação, você tem que apresentar sempre os documentos 2x, etc).

As oportunidades: Este tópico será super específico para o meu caso pois não tenho condições de falar sobre outros cursos. Portanto, vou comparar o meu MPH (Erasmus, chamamos de EPH) com o MPH normal da University of Sheffield (vamos supor que fosse possível cursar ele com uma bolsa do CsF).

Noite Indiana
A primeira grande diferença está na composição da turma/cohort. O meu cohort é composto de alunos internacionais em sua grande maioria (temos apenas 1 inglês e 18 internacionais) e isso traz muitas oportunidades. Nós criamos os "international nights" em que a cada duas semanas temos um jantar feito por um país com comidas e músicas típicas do mesmo. Além disso, pelo fato de todos estarem "no mesmo barco", isso nos deixou muito mais unidos. O cohort do MPH é composto por alunos internacionais e britânicos, acredito que talvez 50/50 (mas isso é um chute). A vantagem neste caso é ter mais contato com os alunos britânicos.

A segunda grande diferença é mesmo nas características do cohort. Por algum motivo, os alunos do EPH (meu caso) dão opiniões, fazem perguntas e interagem muito mais na aula que os alunos do MPH tradicional. Nós discutimos este assunto um dia e acreditamos que seja pela diferença na seleção e também pelo fato de que todos nós (quase) tivemos que mudar de país para estudar, o que já nos torna diferente (não melhor ou pior) dos alunos do MPH. Acredito que seja mesmo uma questão de personalidade.

O apoio que temos da universidade acredito também que seja um pouco diferente. Por exemplo, nosso "course director" (o responsável pelo programa) tem reuniões semanais com o nosso grupo para discutir assuntos diversos, o que não ocorre no MPH traditional. A desvantagem do EPH é que somos um pouco mais perdidos em termos de burocracias que os alunos do MPH pois temos que obedecer as regras da University of Sheffield, da nossa segunda universidade, do nosso programa e do Erasmus (para os alunos do MPH, são as regras da universidade aqui apenas, o que torna tudo muito mais fácil).

Nós estamos cadastrados na matéria "Dissertation" por exigência da universidade aqui, mas não temos que ir pois só faremos a nossa dissertação no segundo ano. No entanto, o Erasmus exige 90% de presença e a Inglaterra idem (sim, eles verificam se você tem ido nas aulas, sob o risco de ser deportado). Ou seja, ainda não sabemos se somos obrigados ou não a ir às aulas da matéria "Dissertation". Para os alunos do MPH, é muito mais claro.

Uma vantagem e desvantagem do Erasmus é a obrigatoriedade de estudar em dois países diferentes. Primeiro, é uma enorme oportunidade conhecer dois países e duas culturas (especialmente no meu caso de saúde pública, conhecer o sistema inglês e francês é uma enorme vantagem). A grande desvantagem é ter que deixar seus amigos e enfrentar toda a burocracia que vem acompanhada da mudança de país (vistos, fechar conta no banco, abrir conta no banco, a mudança em si, etc).

O reconhecimento e a concorrênciaO Ciência sem Fronteiras até que já é um programa razoavelmente conhecido em diversas universidades no mundo, mas na competição CsF vs Erasmus não tenho a menor dúvida que o Erasmus ganha de longe. No entanto, muitos não conhecem tanto as possibilidade para não-EU do Erasmus, apesar de conhecer o programa de uma forma geral.

Em contrapartida, a concorrência para uma bolsa Erasmus também é muito maior (considerando o meu caso, que era de uma pós-graduação). Com certeza é algo que depende muito da sua área e do nível (graduação, pós, etc) mas tenho a impressão que na maioria dos casos a concorrência para a bolsa Erasmus será maior.

Ps: Não deixe que isso de concorrência te iniba de concorrer. 

Resumo: Bom, estas foram as coisas que consegui pensar no momento mas podem perguntar nos comentários. Claro, isso é baseado na minha experiência e cada programa terá suas peculiaridades (tenho uma amiga fazendo outro mestrado Erasmus e posso pedir para ela contar sobre o programa dela aqui, se acharem interessante - acreditem, a experiência dela é muito diferente!).

Se não ficou claro, na minha opinião, o CsF seria um programa mais "certo": a bolsa vem antes (e é maior), não tem mudança de país e tem menos burocracias para enfrentar. No caso do Erasmus, as dificuldades enfrentadas são recompensadas pelo duplo diploma e pelo maior reconhecimento do programa a nível internacional (novamente, essa é a minha opinião). Qualquer que seja a sua opção (seja por oportunidade ou por escolha), ambos tem vantagens e desvantagens, e cabe a você decidir o que será melhor para você.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

University of Sheffield - Orientation Week e a Students Union

Hoje faz, oficialmente, 1 mês que estou em Sheffield! Foi um mês bemmm agitado pois além da mudança para um novo país, a University of Sheffield ainda possui milhares de oportunidades e o Erasmus mais outras tantas. 

Cheguei aqui no dia 15 de Setembro, no meio da Orientation Week (14 à 18 de Setembro). Algumas das atividades são tours pela cidade, pelo campus, pelos prédios principais, etc etc. Eles também fazem palestras sobre assuntos "básicos" como bancos no Reino Unido, responsabilidades do visto Tier 4 (leia aqui sobre minha experiência em tirar o visto Tier 4), segurança, e muitas outras. Por fim, a programação também inclui festas, esportes e "icebreakers" para os calouros/bixos conhecerem pessoas novas. Para quem ficou curioso, é possível ver o booklet desde ano aqui

Também é um bom momento para comentar (já que ouvi isso umas 500x já) que a universidade aqui possui a melhor associação de estudantes (Sheffield Students Union) tem não sei quantos mil anos (só 7, seguidos) e foi votada número 1 em "Student Experience" no Times Higher Education Student Experience Awards. É só ir no site deles para ver as milhares (sem exagero) de atividades que ocorrem todos os dias na universidade (e lá só ficam as maiores). 


Para ver as atividades possíveis para este semestre, veja o livrinho do "Give it a Go", versão Autumn. Por exemplo: jiu jitsu, defesa pessoal, karate (na verdade, tem tipo... todas os tipos de luta e similares), projetos de DYI, introdução à crochê (isso mesmo), curso de como aplicar cílios postiços, tarô e leitura da palma das mãos, coral, dança do ventre, tango (e outros milhares de tipos de dança), xadrez, adeus às abelhas (sim, você leu certo), feminismo 101, terapia do riso e terapia canina, cursos de culinária (vários), cursos de idiomas curtos (5 semanas, vários) além de várias viagens (Harry Potter, Whitby, York, Oxford, Liverpool, Cambridge, etc). São tantas que ficamos até perdidos na verdade. Imagina, todo dia ter a possibilidade de fazer 5 coisas totalmente diferentes? Se tempo e dinheiro não fossem problemas.

Como se as atividades normais não ocupassem já o dia todo, ainda temos as Sociedades (Societies). São grupos estudantis (na UNESP/Farmácia, chamamos de entidades) com temas diversos, dos mais sérios aos mais "normais". Por exemplo, existe da Tea Society que toda semana se encontra para tomar chás diferentes e existe a Friends of Doctors without Borders que promove atividades educacionais e de arrecadação de fundos para o Médicos sem Fronteiras. Se você não imaginava já, também são milhares de societies diferentes (+300). 

Além disso, uma das minhas atividades preferidas é o cinema na universidade em que eles passam filmes em um anfiteatro por um preço menor que o do cinema normal. Os filmes passam toda sexta, sábado e domingo e a programação pode ser vista aqui. Eles também passam filmes para as societies, tipo documentários e afins. Por fim, possuem um programa de rádio em que falam sobre os filmes. 

Isso tudo ocorre (a maioria) em um prédio sinistro que custou nada menos que 20 milhões de libras (a libra está mais de R$6,00 - pensa!). Nele temos diversos restaurantes, escritórios, áreas para estudo, área para reuniões das sociedades/etc, um pequeno mercado, etc etc.
Resumindo: o prédio é enorme para acompanhar as milhares de coisas que acontecem todos os dias. Mas também, diferente das coisas na UNESP, quase tudo é pago. Se for considerar em libras, as taxas são simbólicas, de 1 libras até umas 7 para cursos mais elaborados tipo os de culinária (você pode levar a comida para casa)... ainda assim, é bem diferente do que estou acostumada. Aqui tudo é pago e é normal, ninguém se importa (bom, eu me importo). Felizmente, algumas sociedades relacionadas com saúde não cobram, ou se cobram, fazem para arrecadar dinheiro para uma causa específica). No entanto, para ser membro da AIESEC cobram 20 libras (simplesmente para querer ser voluntário), ai não dá. 

Bom, esse foi o resumo da primeira semana em Sheffield e do básico sobre a universidade. Ainda pretendo escrever sobre a segunda semana (Intro Week), sobre minha impressões Canadá x UK, bolsa Ciência sem Fronteiras x Erasmus e... não sei mais. Se tiverem sugestões, coloquem nos comentários. 


Série de Vídeos: Mestrado Erasmus

Como estou de férias no Brasil, resolvi usar o tempo livre para gravar alguns vídeos sobre a minha experiência deste primeiro ano no Erasmu...