sábado, 9 de janeiro de 2016

Visitando um Campo de Concentração

Não sei se já comentei em algum momento mas estou em Praga e resolvi passar aqui vários dias (pretendo fazer um post explicando tudo que fiz durante estes dias aqui). Tendo bastante tempo para explorar, pude participar de programas não tão típicos (ao menos não para os turistas "normais" que passam 2-3 dias em Praga) e um deles foi a visita ao campo de concentração Terezín.

Lá vai um pouquinho de história... A fortaleza foi construída no século 18 e antes da Segunda Guerra, serviu múltiplas funções. A função de "campo de concentração" foi instituída em Outubro de 1941 mas não era um campo como os que conhecemos das histórias (tipo Auschwitz), era um campo que fazia parte da chamada "final solution" (Janeiro 1942). Qual era o plano? Aqui vai o meu entendimento e do que li: 1o) Isolar os judeus da população; 2o) Concentrar os judeus (aqui entra Terezín); 3o) Extermínio (aqui entra Auschwitz). 

Isto é, o campo de Terezín é o que chamam de campo de transição. Muitas pessoas eram levadas para lá e lá ficariam até serem enviadas aos campos de concentração como Auschwitz. Quem ia e quem ficava? Aparentemente, quem era de alguma forma útil, ficava. As primeiras pessoas chegaram em Terezín em Outubro de 1941, em Fevereiro de 1942 a população original da cidade foi expulsa e em Setembro de 1942 houve a primeira leva de pessoas para os campos do Oeste (em Outubro do mesmo ano, para Auschwitz). 

A situação ficava mais complicada a cada dia com novas regras, mais pessoas e menos comida. A população original era de 7,000 e no auge chegou a ter cerca de 50,000 pessoas (no mesmo espaço)! Em Dezembro de 1943 fica instituído o processo de "embelezamento" (beautification) pois havia pressão para uma visita da Cruz Vermelha. O processo ocorre durante a primavera e no dia 23 de Junho 1944 ocorre a visita. O cenário e o processo foi calculado até os minutos, passando uma imagem de que Terezín era um lugar maravilhoso, afinal, este era o campo de concentração propaganda. Tudo foi tão bem feito que a Cruz Vermelha aprovou o campo e a visita a Auschwitz foi cancelada (lá também havia já um "cenário planejado", caso houvesse a visita). 

Após a visita, já em Setembro de 1944, começa uma série de transporte das pessoas aos outros campos de concentração e liquidação das cinzas daqueles que haviam morrido em Terezín (geralmente, pelas péssimas condições de higiene e falta de alimento). Em Fevereiro de 1945 começa a construção de uma câmara de gás em Terezín e subsequente destruição de todos os arquivos que poderiam indicar tudo que ocorreu no local.

Em Maio de 1945 os nazistas deixam Terezín mas o terror não acaba ai. Muitos chegavam de outros campos de concentração, em péssimas condições, e com eles traziam tifo. Foi com a ajuda do Exército Vermelho e da Cruz Vermelha que a epidemia foi então controlada e ocorre a repatriação de muitos. Em Outubro, os moradores originais retornam a Terezín. 

Ps: Não estudei história nem nada do gênero, as informações são baseadas no que o guia disse e no livro "The Terezín Ghetto". 

Como foi a visita... Encontramos o guia no Staroměstské náměstí e seguimos em direção a estação de trem (local). De lá, pegamos o trem até o ponto de Terezín, no mesmo caminho que seria feito e pelos mesmos trilhos da época da Segunda Guerra (quer dizer, acredito que os trilhos em si são um pouco mais novos né?). Um ponto crucial do guia (um ótimo guia, btw) era mostrar a diferença entre o que era Terezín para os judeus e o que eles mostravam ser para o mundo (a propaganda). 

Existem poucas coisas originais em Terezín pois hoje em dia o local funciona como uma cidade normal, com moradores e tudo. Ao mesmo tempo, tudo parece muito com os desenhos (clandestinos) que restaram. Original mesmo só o crematório e por ele é possível ver como tudo era "frio e calculista". O local conta também com museus com diversas exibições interessantes sobre a vida na época, baseado nas pinturas e nos relatos daqueles que sobreviveram. É possível visualizar bem a vida na época e pensar que, se este era o "campo bom de estar", imagina em campos como Auschwitz. 

A visita com certeza vale a pena e ter passado estes dias a mais em Praga certamente compensou. Para quem visitar, comprem o livro "The Terezín Ghetto" por Ludmila Chládkova. É baratinho e curto, mas dá uma geral na história e nas condições da época. 

Empresa: Sandemans New Europe. Recomendo muito! Também participei do free tour com eles pela cidade, também ótimo. 

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